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O dia que durou 21 anos





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Por Juliana Borges

No dia 31 de março de 1964, os militares tomaram o poder e implantaram uma ditadura que durou 21 anos no Brasil. Muitos dos direitos constitucionais foram suspensos e substituídos por uma série de medidas de exceção. Os golpistas procuraram definir esse assalto à democracia como uma revolução.

Com essa expressão eles legitimaram o golpe de Estado que depusera o presidente eleito democraticamente pelo voto popular.

Conforme o pensamento do historiador e professor Mário Sérgio de Albuquerque, podemos definir a ditadura militar como sendo o período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil: “Isto se deu no início de 1964 se estendendo até 1985.

O presidente João Goulart, que tinha um projeto de reformas econômicas e sociais, foi derrubado por este golpe militar. As eleições para os cargos mais importantes, como presidente, foram suspensas, assim como muitas liberdades individuais”, explica.

Iniciava-se ali um longo período, no qual os órgãos de segurança do governo reprimiram com violência – perseguindo, prendendo, matando ou expulsando do país – todos aqueles que ousaram contrapor-se ao regime. A perseguição do regime militar aos oposicionistas foi brutal. Dezenas de pessoas foram mortas nas sessões de torturas.

Obviamente que o baque não ocorreu de uma hora para a outra. Em um contexto de fortes disputas ideológicas e ameaças entre o modelo capitalista, encabeçado pelos Estados Unidos e as potências ocidentais, e o socialismo, liderado pela União das Re-públicas Socialistas Soviéticas (URSS), alguns historiadores acreditam que o golpe já vinha sendo ensaiado desde os últimos anos de Getúlio Vargas no poder, nos idos de 1954.

Com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e a chegada de João Goulart, o Jango, as classes conservadoras brasileiras temiam um aumento da ideologia socialista dentro do país.

Dentre as principais características do regime militar no país, destacam-se a cassação de direitos políticos de opositores, repressão aos movimentos sociais e manifestações, censura aos meios de comunicação, aos artistas (músicos, atores e artistas plásticos), aproximação dos Estados Unidos, controle dos sindicatos, implantação do bipartidarismo: Arena (governo) e MDB (oposição controlada) e o “Milagre econômico” (forte crescimento da economia entre 1969 a 1973), com altos investimentos em infraestrutura e aumento da dívida externa.

A psicanalista Maria Rita Kehl, que compõe a Comissão da Verdade, em texto publicado recentemente no jornal Folha de S.Paulo, descreve a ditadura como sendo um período de resistência seguido de morte: “Assim, agentes da Polícia Militar, integrantes do Exército e diversos matadores free-lancer justificavam as execuções de supostos inimigos públicos que militavam pela volta da democracia durante a ditadura civil militar, a qual oprimiu a sociedade e tornou o país mais violento, menos civilizado e muito mais injusto entre 1964 e 1985”.

Segundo apontam os dados divulgados após uma pesquisa apurada por Janaína Teles, mestranda em História na Universidade de São Paulo, durante toda a ditadura os números aproximados de repressão foram de 50 mil presos políticos, 20 mil torturados, quase 5 mil civis cassados e aproximadamente 400 políticos foram mortos ou desapareceram.

Os presos foram submetidos a torturas para revelar o nome dos companheiros de luta e os planos das organizações clandestinas e guerrilheiras a que pertenciam.

Em São Paulo, chegaram a ser presos muitos religiosos, de diversas ordens, acusados de colaborarem com os opositores.