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ONDE ELE ESTÁ?



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“Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e, no meu caso, ameaças de estupro. Dias depois, chegaram dois caras do Dops do Rio, que exibiam um emblema do Esquadrão da Morte na roupa, para ‘ajudar’ no interrogatório. Eu ficava horas numa sala, entre perguntas e tortura física. Dia e noite. Eu estava grávida 
de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei.” ROSE NOGUEIRA, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), era jornalista quando foi presa em 4 de novembro de 1969.





Por Rodrigo Fagundes


“Onde ele está?”. Esta era uma das principais frases repetidas à exaustão durante as diversas sessões de tortura ocorridas durante o período militar. Para muitas pessoas, lembrar-se da época da ditadura é tocar num assunto incômodo e tortuoso. Muitos choram e se emocionam quando lembram de seus familiares e conhecidos que foram torturados. Mas quais foram os motivos para tanta violência?

A tortura foi empregada especialmente para obtenção de confissões e informações sobre suspeitos envolvidos em qualquer atividade política de oposição ao regime.

Se os policiais desconfiassem que pessoas eram envolvidas em algum movimento estudantil, revolucionário ou até mesmo religioso, que fosse contra o governo, eram detidas e encaminhadas ao DOI-Codi, onde iriam prestar depoimento. Lá, eram torturadas até que se contassem os nomes e onde estavam os seus líderes. Muitas vezes, o ponto extremo dessas sessões culminava com a morte.

Em documentos sob a coordenação da Igreja Católica, junto aos militantes, foram identificados mais de cem tipos de torturas que os próprios militares utilizavam nos chamados “anos de chumbo” (1964-1985).

Nesses arquivos estão relacionados vários graus de aberração cometidos contra o ser humano: choques elétricos, pau-de-arara, afogamento, espancamento, dentre outros.

É preciso relembrar esse passado cruel, como forma de mostrar às novas gerações até que ponto o ser humano é capaz de ir, na questão de desrespeito aos direitos do próprio homem. Como diz uma frase estampada nos corredores do Memorial da Resistência: “Lembrar é resistir!”


Dops: de centro de detenção a Memorial

Por Rodrigo Fagundes
Criado em 1924, utilizado durante o período do Estado Novo e do regime militar, o Dops (Departamento de Ordem Política e Social), sempre teve o intuito de vigiar e reprimir as manifestações políticas. 

Abrigou a sala de comando de operações do temido delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury e as celas onde várias pessoas, incluindo presos políticos como a presidenta Dilma Roussef, o escritor Monteiro Lobato, o guerrilheiro Carlos Lamarca, Frei Tito e tantos outros que dedicaram suas vidas pela luta contra a repressão. 

O prédio onde funcionava o órgão, no Largo General Osório, 66, em São Paulo, hoje foi transformado em Museu da Resistência, aberto ao público em geral, além de  promover debates sobre o período.

DOI-Codi: o palco do horror

Por Rodrigo Fagundes

Muitos foram os órgãos criados pelo governo para garantir a ordem e o o combate contra a ameaça comunista durante o período da ditadura. Dentre eles se destacou o DOI-Codi. 

Com o intuito de silenciar os opositores ao regime, o governo criou o Destacamento de Operações de Informações, mais conhecido como DOI. Em vários estados brasileiros foram instalados prédios para abrigar esses órgãos, os quais eram subordinados ao Centro de Operações de Defesa Interna (Codi). Foram as ligações entre as duas instituições que motivaram a temida sigla DOI-Codi.

Nas dependências do DOI-Codi paulista, localizado na rua Tutóia, bairro do Paraíso, por exemplo, o jornalista Vladimir Herzog foi preso, torturado e morto pelos agentes do Estado, em 1975. Hoje, no local, funciona um distrito policial.

Oban: a repressão a partir do Exército

Por Rodrigo Fagundes

A Oban (Operação Bandeirante) foi criada em 1969, pelo Exército brasileiro, com o intuito de levantar informações e investigações e combater organizações de esquerda. 

As pessoas eram levadas para a sua sede, situada à rua Tomaz Carvalhal, 1030, na Grande São Paulo. Ali começava a “sessão” tortura com os presos até que eles contassem onde estavam os seus líderes e quando estes não sabiam eram torturados. 

A entidade era financiada por grandes empresários e seu membro de maior destaque foi o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, conhecido como “Dr. Tibiriçá”. Durante o governo do presidente José Sarney, a atriz Bete Mendes, então deputada, reconheceu o coronel Ustra como seu torturador.