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Cemitério em Perus preserva memória dos mortos e desaparecidos

Espaço onde se localizava a Vala de Perus, no cemitério dom Bosco, em São Paulo

crédito da foto: Clau Silva

Por Clau Silva 

Na década dos anos 1970, em meio à ditadura militar, o cemitério Dom Bosco, mais conhecido como Vala de Perus ou Vala Clandestina, foi construído pela Prefeitura de São Paulo, na administração de Paulo Maluf.

Em 1990, com a gestão da prefeita Luiza Erundina, formou-se a Comissão Especial de Investigação das Ossadas de Perus. Na ocasião, foi aberta a vala do cemitério e foram encontradas mais de 1000 ossadas, enterradas dentro de sacos pretos e  amontoados ao lado de indigentes. Entre as ossadas estavam os restos mortais de presos políticos e vítimas da repressão política.

Em vários depoimentos registrados nesses 30 anos, parentes e familiares declaram que não sabiam o paradeiro das pessoas desaparecidas. No mesmo ano, a prefeita assinou um convênio com a Universidade de Campinas (UNICAMP) para a identificação das ossadas. O estudo foi feito através das arcadas dentárias e análise dos sexos.

Corpos de pessoas como o revolucionário Joaquim Alencar de Seixas e Sônia Maria de Moraes Angel Jones foram alguns dos primeiros a serem encontrados na vala clandestina.

As pesquisas também foram realizadas pela Comissão Especial dos Mortos e no local, onde se encontrava a vala, foi erguido um monumento de autoria do arquiteto Ricardo Ohtake, inaugurado em 26 de agosto de 1993.

O local continua resguardado para que futuramente possa se construir um Memorial.


Comissão busca esclarecer e oficializar morte de desaparecidos

Por Clau Silva 

Em 1995, com a lei nº 9140 de 4 de dezembro, formou-se a  Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) para esclarecer os desaparecimentos e mortes das pessoas que participaram das atividades políticas e provar que as mortes não foram naturais ou suicídios. Ela se diferencia da Comissão da Verdade por  ter sido a pioneira na busca de informações das pessoas perseguidas. Além disso, a CEMDP  tem como objetivo oficializar nos cartórios de todo o país a causa da morte de cada uma dessas pessoas no período compreendido entre os anos de 1961-1985. 

A  Comissão teve início com sete integrantes: um deputado da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, uma pessoa ligada às vitimas da ditadura, um representante das Forças Armadas, um membro do Ministério Público Federal e três pessoas livremente escolhidas pelo presidente da República, e vinculou-se também com a Secretaria de Direitos Humanos.

A primeira etapa foi encerrada em 2006, com 339 casos em processo e que até hoje segue em atuando. A maior indignação dos familiares e parentes das pessoas mortas e desaparecidas é que não tiveram o direito ao menos de encerrar simbolicamente o ciclo da vida, ou seja, saber a causa da morte, velar e enterrar.

Em 2007, o lançamento do Livro “Direito à Memória e à Verdade”, com o apoio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, registrou todos os perfis dos mortos e desaparecidos definidos como vítimas até 2007.

Durante as análises registradas entre 2006 e 2008, cerca de 50 mil pessoas teriam sido detidas somente nos primeiros meses da ditadura, 100 mil cidadãos enviados ao exílio, 130 banidos do país, 4862 tiveram os direitos políticos cassados, 6592 militares punidos e pelo menos 245 estudantes expulsos das universidades. 

Em 2009, foi lançado pela Imprensa Oficial o “Dossiê da Ditadura – Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil”. Segundo o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CONDEPE), Ivan Seixas, muitos outros casos não foram contabilizados: 

“Foram 500 casos de mortos e desaparecidos. Deles, 180 não foram localizados, uns 40 mais ou menos as pessoas sabem que foram mortos, mas o corpo sumiu”.